Wikipedia

Resultados da pesquisa

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

O Empreendedorismo na Capoeira

O contexto do empreendedorismo na Capoeira é aparentemente novo, porém, com base em relatos de historiadores, começa na primeira metade do século XX com o mestre Bimba e alguns outros mestres como Pastinha, Canjiquinha, Caiçara entre outros. Eles ministravam aulas em suas academias, como também em outros locais, e se envolveram em apresentações de Capoeira, Maculelê e Samba de Roda. Podemos citar também a iniciativa da professora Emília Biancardi quando lançou o conjunto folclórico Viva Bahia, no início da década de 60, que tinha a Capoeira como uma das principais atrações. Depois surgiram outros grupos deste gênero sob a coordenação de capoeiras como os mestres Acordeon, Camisa Roxa, Eziquiel e outros mestres. Segundo alguns mestres de Capoeira e pesquisadores, estes grupos folclóricos abriram oportunidade para muitos capoeiristas se estabelecerem em outros estados e países começando, desta forma, de uma maneira simples, o aspecto da internacionalização da arte/luta.

 

O mestre Bimba e, logo após, o mestre Pastinha traçaram os primeiros passos da Capoeira como arte/educação, trazendo outro significado para a arte/luta que antes era discriminada. O mestre Bimba, por exemplo, ministrou aulas para alunos do curso de medicina e acredita-se que com estas experiências conseguiu aperfeiçoar a metodologia da Capoeira Regional, sem perder a sua essência. Possivelmente, estes mestres, principalmente o mestre Bimba, traçaram um objetivo no qual pudessem enxergar as possibilidades de expandir “seus negócios” para conseguirem se estabelecer financeiramente. Vejam a percepção do escritor Jorge Amado, sobre o mestre Bimba, na primeira metade do século XX: “O único profissional baiano da capoeira é mestre Bimba, um dos mais afamados da cidade” (trecho retirado do livro Bimba é Bamba – A Capoeira no Ringue, escrito por Frede Abreu).

 

Com a expansão da Capoeira para outras áreas, como por exemplo a área escolar, ela passou a ganhar legitimidade e, em Salvador, na década de 60, segundo Acúrsio Esteves em seu livro A Capoeira da Indústria do Entretenimento, passou a ser praticada na Escola Thomaz de Aquino, em Salvador, com o mestre Aristides. Desde então, abriu-se o que podemos chamar, atualmente, da grande cartada para o capoeirista se firmar como profissional.

 


Dentro dos contextos citados acima, estas diversas frentes, como apresentações, mundialização, Capoeira nas escolas, academias exclusivas da arte/luta, proporcionaram a abertura de outros mercados paralelos como a venda de instrumentos, CDs, DVDs, livros, roupas, etc. Alguns grupos de Capoeira, a partir da década de 80, iniciaram um processo de franquear seus trabalhos que eram centralizados na matriz do grupo pelo mestre. Os grandes eventos começaram a ser realizados, em um primeiro momento, na década de 80, com cunho nacional, porém, com a abertura do mercado no exterior, os internacionais tornaram-se rapidamente uma realidade. O antigo Escritório Internacional da Capoeira e Turismo ligado a SETUR (Secretaria de Turismo do Estado da Bahia) realizou uma pesquisa mostrando a dimensão deste mercado citado.

 

A vontade do capoeirista trabalhar exclusivamente ou parcialmente com a Capoeira, normalmente, está diretamente ligada a necessidade de ser um empreendedor. Alguns grupos alinham seus componentes dentro de uma estrutura profissional, dando instruções relativas as possibilidades de trabalho por meio da Capoeira. A arte/luta oferece muitas vertentes de trabalho, como, por exemplo, a de artesão, para aquele que confecciona e vende instrumentos, do artista/profissional, que é contratado para se apresentar em show folclórico, a do educador escolar, etc.

 

Para a pessoa que quer seguir carreira dentro da perspectiva do empreendedorismo sugiro um entendimento do que seja a Capoeira como instituição. Muitas pessoas pensam que a Capoeira, por ser uma arte popular, pode tudo. Contudo, para entrar nesse caminho empreendedor/profissional o entendimento da Capoeira como instituição é imprescindível. Sugiro, também, uma análise do mercado capoeirístico associada a afinidade e habilidade, de quem tem interesse de ser empreendedor, para que este processo de trabalho não seja interrompido.

 

O campo de políticas públicas é a bola da vez para alguns capoeiras  empreendedores, ONGs (Organizações Não Governamentais), MEIs (Micro Empreendedores Individuais) e produtoras culturais, porém é necessário uma maior difusão desta área de atuação para abranger um número mais significativo de capoeiristas. Para os profissionais da Capoeira, que querem se firmar neste campo de atuação, é preciso ter paciência e persistência para ler longos textos de editais, ter organização para o momento de prestação de contas e/ou se associarem a uma empresa que compre o sonho do capoeira e tenha experiência nesse segmento para entrar no projeto como parceira.

 

É inquestionável a presença de bons empreendedores na Capoeira, desde as épocas passadas, citadas anteriormente, contudo, o caminho não é tão simples assim. Ter um(a) bom(boa) orientador(a), que mostrará a essência da Capoeira como instituição, afinidade no que faz, estudos e muita perseverança, com certeza aliviará as tensões que acontecerão nesse caminho de quem busca o empreendedorismo. Como colocou Adam Smith sobre a “mão invisível”, na obra A Riqueza das Nações, o mercado se movimenta e as pessoas, para não perderem a linha de ação, têm que estar sempre antenadas. Por mais que os capoeiras trabalhem com os movimentos do corpo, às vezes o mercado pode lhe dar uma rasteira!

 

 

Ricardo Carvalho

Mestre Balão

Presidente do Instituto CTE Capoeiragem

Empreendedor Sócio Cultural Esportivo

Crônicas do Jiu Jitsu. Uma história inspiradora.

  Em uma cidade vibrante à beira-mar, havia um jovem chamado Tiago, que sonhava em se tornar um campeão de jiu-jitsu. Tiago vinha de uma fam...

Postagens mais visualizadas