O
contexto do empreendedorismo na Capoeira é aparentemente novo, porém, com base
em relatos de historiadores, começa na primeira metade do século XX com o mestre
Bimba e alguns outros mestres como Pastinha, Canjiquinha, Caiçara entre outros.
Eles ministravam aulas em suas academias, como também em outros locais, e se
envolveram em apresentações de Capoeira, Maculelê e Samba de Roda. Podemos
citar também a iniciativa da professora Emília Biancardi quando lançou o conjunto
folclórico Viva Bahia, no início da década de 60, que tinha a Capoeira como
uma das principais atrações. Depois surgiram outros grupos deste gênero sob a
coordenação de capoeiras como os mestres Acordeon, Camisa Roxa, Eziquiel e
outros mestres. Segundo alguns mestres de Capoeira e pesquisadores, estes
grupos folclóricos abriram oportunidade para muitos capoeiristas se
estabelecerem em outros estados e países começando, desta forma, de uma maneira
simples, o aspecto da internacionalização da arte/luta.
O mestre
Bimba e, logo após, o mestre Pastinha traçaram os primeiros passos da Capoeira
como arte/educação, trazendo outro significado para a arte/luta que antes era
discriminada. O mestre Bimba, por exemplo, ministrou aulas para alunos do curso
de medicina e acredita-se que com estas experiências conseguiu aperfeiçoar a
metodologia da Capoeira Regional, sem perder a sua essência. Possivelmente,
estes mestres, principalmente o mestre Bimba, traçaram um objetivo no qual
pudessem enxergar as possibilidades de expandir “seus negócios” para
conseguirem se estabelecer financeiramente. Vejam a percepção do escritor Jorge
Amado, sobre o mestre Bimba, na primeira metade do século XX: “O único
profissional baiano da capoeira é mestre Bimba, um dos mais afamados da cidade”
(trecho retirado do livro Bimba é Bamba – A Capoeira no Ringue, escrito
por Frede Abreu).
Com
a expansão da Capoeira para outras áreas, como por exemplo a área escolar, ela
passou a ganhar legitimidade e, em Salvador, na década de 60, segundo Acúrsio
Esteves em seu livro A Capoeira da Indústria do Entretenimento, passou a
ser praticada na Escola Thomaz de Aquino, em Salvador, com o mestre
Aristides. Desde então, abriu-se o que podemos chamar, atualmente, da grande
cartada para o capoeirista se firmar como profissional.
Dentro
dos contextos citados acima, estas diversas frentes, como apresentações,
mundialização, Capoeira nas escolas, academias exclusivas da arte/luta, proporcionaram
a abertura de outros mercados paralelos como a venda de instrumentos, CDs,
DVDs, livros, roupas, etc. Alguns grupos de Capoeira, a partir da década de 80,
iniciaram um processo de franquear seus trabalhos que eram centralizados na
matriz do grupo pelo mestre. Os grandes eventos começaram a ser realizados, em
um primeiro momento, na década de 80, com cunho nacional, porém, com a abertura
do mercado no exterior, os internacionais tornaram-se rapidamente uma
realidade. O antigo Escritório Internacional da Capoeira e Turismo ligado a
SETUR (Secretaria de Turismo do Estado da Bahia) realizou uma pesquisa
mostrando a dimensão deste mercado citado.
A
vontade do capoeirista trabalhar exclusivamente ou parcialmente com a Capoeira,
normalmente, está diretamente ligada a necessidade de ser um empreendedor.
Alguns grupos alinham seus componentes dentro de uma estrutura profissional,
dando instruções relativas as possibilidades de trabalho por meio da Capoeira.
A arte/luta oferece muitas vertentes de trabalho, como, por exemplo, a de artesão,
para aquele que confecciona e vende instrumentos, do artista/profissional, que
é contratado para se apresentar em show folclórico, a do educador escolar, etc.
Para
a pessoa que quer seguir carreira dentro da perspectiva do empreendedorismo sugiro
um entendimento do que seja a Capoeira como instituição. Muitas pessoas pensam
que a Capoeira, por ser uma arte popular, pode tudo. Contudo, para entrar nesse
caminho empreendedor/profissional o entendimento da Capoeira como instituição é
imprescindível. Sugiro, também, uma análise do mercado capoeirístico associada
a afinidade e habilidade, de quem tem interesse de ser empreendedor, para que
este processo de trabalho não seja interrompido.
O campo
de políticas públicas é a bola da vez para alguns capoeiras empreendedores, ONGs (Organizações Não
Governamentais), MEIs (Micro Empreendedores Individuais) e produtoras culturais,
porém é necessário uma maior difusão desta área de atuação para abranger um número
mais significativo de capoeiristas. Para os profissionais da Capoeira, que
querem se firmar neste campo de atuação, é preciso ter paciência e persistência
para ler longos textos de editais, ter organização para o momento de prestação
de contas e/ou se associarem a uma empresa que compre o sonho do capoeira e
tenha experiência nesse segmento para entrar no projeto como parceira.
É inquestionável a presença de bons empreendedores na Capoeira, desde as épocas passadas, citadas anteriormente, contudo, o caminho não é tão simples assim. Ter um(a) bom(boa) orientador(a), que mostrará a essência da Capoeira como instituição, afinidade no que faz, estudos e muita perseverança, com certeza aliviará as tensões que acontecerão nesse caminho de quem busca o empreendedorismo. Como colocou Adam Smith sobre a “mão invisível”, na obra A Riqueza das Nações, o mercado se movimenta e as pessoas, para não perderem a linha de ação, têm que estar sempre antenadas. Por mais que os capoeiras trabalhem com os movimentos do corpo, às vezes o mercado pode lhe dar uma rasteira!
Ricardo
Carvalho
Mestre
Balão
Presidente
do Instituto CTE Capoeiragem
Empreendedor
Sócio Cultural Esportivo
Excelente artigo que permite aos futuros empreendedores uma boa visão da capoeira como investimento.
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