Havia um espaço público em que aconteciam
aulas de artes marciais no coração da cidade. O professor de Hap Ki Dô, Sr.
Takeshi, era conhecido por sua personalidade difícil. Ele era teimoso,
egocêntrico e não hesitava em entrar em discussões acaloradas com seus alunos e
colegas. Ninguém gostava dele, mas todos respeitavam sua habilidade no tatame.
Um dia, o professor de capoeira, Mestre
Rafael, chegou a esse espaço. Ele era calmo, paciente e sempre tinha um sorriso
no rosto. Ao contrário de Sr. Takeshi, Mestre Rafael era bem quisto por todos.
Ele ensinava com paixão e compartilhava seus conhecimentos sem egoísmo.
Sr. Takeshi não suportava a
presença de Mestre Rafael. Ele via a capoeira como uma ameaça ao seu domínio no
espaço. Um dia, durante uma conversa, Sr. Takeshi desafiou Mestre Rafael apenas
por esse estar com um horário que o Sr. Takeshi considerava melhor. Ele queria
provar para todos que ele era superior.
Como as pessoas não queriam
confusão e sempre cediam às suas provocações, o Sr. Takeshi estava confiante,
enquanto Mestre Rafael permanecia tranquilo. O que o Sr. Takeshi não esperava,
era que Mestre Rafael tinha tanta disposição para lutar pelos seus ideais
quanto ele, e Mestre Rafael não tinha nenhum tipo de medo do Sr. Takeshi.
Enquanto Sr. Takeshi levantava a
voz, Mestre Rafael disse: “Aqui na terra, somos apenas passageiros. Não importa
quem ganhe ou perca. O importante é aprender e crescer.” Mas é preciso saber
respeitar a conquista do outro, não vou ceder aos seus ataques de fúria e exijo
respeito. Não tenho medo de você e isso não é atitude de Mestre. Somos todos
passageiros nesse planeta, nada é nosso. E eu tenho tanto direito quanto você
de lutar pelos espaços públicos, afinal esses espaços não são seus. E se você
passar desse ponto, nosso embate será de homem para homem.
Sr. Takeshi ficou atordoado. Ele
percebeu que sua arrogância o havia cegado. Ele não aceitou as palavras de
Mestre Rafael, mas viu que havia um homem na frente dele que não se renderia
aos seus gritos e mandos. Foi necessário ponderar e entender que os grandes
políticos, apesar de serem opostos, se tratam com cordialidade, sentam, apertam
as mãos, tomam café, riem e usufruem o poder público juntos, apesar de serem
antagônicos, e os pobres, a população sofrida em vez de fazer o mesmo, ficam se
matando, se esgoelando por migalhas. O bem público é difuso, é de todos e não é
de ninguém, e Mestre Rafael não brigaria por espaço, ele não era louco, e nem
esfomeado pelo micro poder. Ele só queria mostrar a aquele homem arrogante na
frente dele, que ele não se curvaria a nenhum homem por medo. O único digno de
louvor é Jesus Cristo.
As pessoas na academia também tinham
sua opinião sobre Sr. Takeshi. Ele era teimoso, mas precisou entender que nem
todos cederiam a ele. E que o mestre Rafael não tinha nenhuma raiva dele, e nem
rancor. Aliás, o Mestre Rafael não era um covarde que falava por trás. Mas
aquele narcisismo precisava ser freado.
Ele ensinou aos alunos que o
verdadeiro poder não está na força física, mas na humildade e na capacidade de
aprender com os outros. E, como Mestre Rafael disse, “As pessoas não têm medo
de você, Sr. Takeshi. Elas têm medo de perder a oportunidade de crescer.”.
E no final
ele saiu tocando o seu berimbau e cantando: “... cuidado moço que essa fruta
tem caroço...”.